Eusébio e Coluna

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Eles vão continuar vivos entre nós Benfiquistas

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Cronica da Leonor Pinhão

Leonor Pinhão no seu melhor na sua cronica de hoje do jornal "A Bola"









"Véspera de Santo António em Lisboa. Enquanto vão comendo sardinhas, dois populares conversam sobre coisas do futebol. É tudo gritado porque a música do arraial impera e abafa. É tempo dela.

- O que me dizes ao novo treinador do FC Porto?
- Os novos treinadores do FC Porto, quererás tu dizer…
- Como?
- Ouviste muito bem. Os novos treinadores do FC Porto…
- Mas estás a contar com os adjuntos do Paulo Fonseca?
- Não, de maneira nenhuma.
- Oh pá foi o acontecimento desportivo nacional da semana. O novo treinador do FC Porto, o sucessor de Vítor Pereira. Andas a dormir?
- Compreendi-te. Mas o FC Porto esta semana não foi o único clube a ter novos treinadores do FC Porto.
- Charadas a esta hora é que não, por favor, não me atrases a paciência.
- Por exemplo, o Arouca também teve um novo treinador do FC Porto, o Pedro Emanuel.
- Isso não conta, por amor de Deus.
- E o Paços de Ferreira também teve um novo treinador do FC Porto, o Costinha.
- O Costinha é do Sporting desde pequenino tal como fez questão de o afirmar na sua não muito longínqua passagem por Alvalade.
- Sim, é do Sporting desde pequenino mas, para todos os efeitos, não deixa de ser o novo treinador do FC Porto em Paços de Ferreira.
- Diziam que ia para lá o Jorge Costa.
- Outro, está a ver? Ó próximo campeonato já está todo minado. 
- Essa é uma análise que enferma de fanatismo.
- Chama-lhe fanatismo, chama-lhe. E vai o levar o Maniche.
- Quem? Para onde?
- O Costinha vai levar o Maniche como adjunto para a Capital do Móvel.
- Pela tua ótica, portanto, o Maniche engloba-se na categoria de novo treinador-adjunto do FC Porto.
- Sem tirar nem pôr.
- Então nesse caso como classificas profissionalmente o Sérgio Conceição e o Nuno Espírito Santo?
- Transitam para a próxima temporada?
- Transitam, sim senhor.
- Então nesse caso o Sérgio Conceição é o antigo treinador do FC Porto em Olhão e o Nuno Espírito Santo é o antigo treinador do FC Porto em Vila das Aves.
- Oh demência.
- Se calhar devíamos ameaçar desistir do próximo campeonato como fizemos em relação à final da Taça dos Campeões Europeus de hóquei em patins.
- Agora interessas-te por hóquei em patins?
- Somos campeões europeus porque, segundo o próprio treinador do FC Porto, os seus jogadores passaram em claro a noite da véspera da final a ir à internet para ver se o Benfica desistia ou se desistia de desistir.
- Olha que bem pensado.
- E, pensando bem e melhor, o professor Jesualdo Ferreira é o antigo treinador do FC Porto em Braga.
- Basta!
- E o Jorge Jesus é o ex-novo treinador do FC Porto no Estádio da Luz.
- Francamente…E o que me dizes ao antigo treinador do FC Porto ir para a Arábia Saudita treinar o Al-Ahli, um clube mouros…
-… ainda não rescindiu!
- Provavelmente até lhe renovaram o contrato e esqueceram-se de o avisar.
- Provavelmente foi isso mesmo.
E continuaram a conversar pela noite fora sem necessidade de mudar de assunto e quase sempre em desacordo embora fossem do mesmo clube.


O recente sucesso de Jupp Heynckes no comando do Bayern de Munique tem dado pano para mangas. Mourinho citou-o para justificar o seu regresso ao Chelsea e a possibilidade de se voltar a ser feliz onde já se foi feliz. 
Também ouvi a muitos benfiquistas, em defesa da continuidade de Jorge Jesus, dar o exemplo do treinador alemão que, depois de ter perdido tudo no final da época de 2011/2012, acabou por ganhar tudo no final da época de 2012/2013.
E ainda ouvi benfiquistas que, antes pelo contrário, viam em Jupp Heynckes o substituto ideal de Jorge Jesus.
- Ele até fala bem castelhano – foi um dos argumentos apresentados.
- Mas para quê contratar um treinador que fala castelhano se agora o nosso plantel é sérvio? – logo houve quem contrapusesse com mau humor.
No entanto, a mais troante de todas as justificações que ouvi para a aposta do Benfica em Heynckes foi esta:
- Para ele era ótimo porque nem sequer tinha de sair do seu país.
- …
- Sim, ou não somos actualmente um amável colonato da Alemanha?
Adiante para não se meter política no assunto.
O futuro próximo de Pep Guardiola presta-se também a boas e a más comparações com as nossas coisinhas. O treinador catalão vai, precisamente, substituir Jupp Heynckes no Bayern de Munique e tem pela frente a tarefa de, pelo menos não fazer pior do que o seu predecessor. 
O que é francamente difícil, para não dizer quase impossível.
.- Aliás, o Paulo Fonseca, se pensarmos bem, vai ser o Guardiola do FC Porto – ouvi dizer assim que o antigo treinador do Paços de Ferreira se transformou no novo treinador do FC Porto.
- O Guardiola do FC Porto? – espantei-me naturalmente.
- Sim, vai ter fazer, no mínimo, igual ao Vítor Pereira que ganhou dois campeonatos seguidos sofrendo apenas uma única derrota. Menos do que isto é estragar.
- Está bem visto, sim senhor.


Do século XX português o estadista, o homem político que mais me encanta foi o diletante, sofisticado e helenista republicano Manuel Teixeira Gomes, presidente da República entre 1923 e 1925. Um período curto que o reteve, nas suas próprias palavras, “prisioneiro, aborrecido e enjoado” de um bando de “políticos intoleráveis” que não serviam o país mas que, ainda assim, serviram a Manuel Teixeira Gomes como fonte de inspiração: “procurei estudá-los mais como romancista do que como Chefe de Estado”. Sim, o nosso presidente também era escritor.
Teixeira Gomes renunciou ao cargo, foi de Belém a São Bento entregar a sua demissão à assembleia, depois foi de São Bento até casa, fez as malas, meteu-se no primeiro barco que saía do porto de Lisboa – o “Zeus” – e desembarcou no norte de África, em Oran, “iniciando aí, mau grado a velhice, esta grande primavera de liberdade e felicidade qua ainda agora dura”, como escreveu numa carta a António Patrício.
Nunca mais pôs os pés em Portugal. Viajou muito e fixou-se, por fim, em Bougie, na antiga Argélia francesa, onde viria a morrer em 1941 na suspirada qualidade do total anonimato que pertencia ao hóspede do quarto n.º 13 do Hotel de L’Etoile, com ampla vista para o Mediterrâneo.
Descobri recentemente num alfarrabista da Rua do Poço dos Negros um livro sobre este nosso Estadista publicado em Lisboa no ano da sua morte e da autoria de Norberto Lopes. Chama-se “O Exilado de Bougie” e logo me apressei a lê-lo certa de que iria encontrar novas razões para alimentar a minha estima e quase fascínio pela soberba figura paradoxal deste patriota português a quem o país amado aborrecia, aprisionava e enjoava ao ponto de zarpar para sempre e sem remorsos.
E encontrei, claro, muitas das novas razões que procurava. Entre elas, se me permitem, esta: Manuel Teixeira Gomes era fã do Tamanqueiro!
Do antigo presidente da República que bendizia cada final de dia passado longe da Pátria e da I República com um “este já ninguém mo tira!” já falei o suficiente. Do Tamanqueiro vou falar agora. Chamava-se, na verdade, Raul Soares Figueiredo e foi um excepcional futebolista algarvio, primeiro do Olhanense e, depois, do Benfica. Numa carta a José Pontes, Manuel Teixeira Gomes, refere-se-lhe assim:
“Diante dos olhos ainda me perpassam as tardes heroicas; aclamada pela multidão imensa, destaca-se, na luz vermelha do poente, a forma tão juvenilmente obstinada, na sua ubiquidade inverosímil, do Tamanqueiro caindo, erguendo-se, pulando como se a terra lhe servisse de trampolim, sem deixar nunca de sorrir.”
Manuel Teixeira Gomes era também algarvio, nascera em Portimão, e provavelmente o seu alto apreço pelo Tamanqueiro tinha uma forte componente de amor regional. Quero eu dizer que das palavras do Estadista não se pode concluir que fosse um benfiquista de alma e de coração. 
No entanto, mais adiante no livro, quando Teixeira Gomes já está instalado no norte de África para nunca mais voltar e escreve a Columbano Bordalo Pinheiro as suas impressões magrebinas, aí é que, na minha enfermada opinião, se desnuda todo um benfiquismo atávico e genial. 
Ouçamo-lo:
“A afinidade congénita mais se avigorou e hoje, velho como estou, se tivesse de mudar de nacionalidade, era entre sarracenos que de preferência a buscaria. E tudo me incita a tomar tal resolução!”
A este homem não me importaria de chamar presidente.


Carrega, Toni!"

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