Eusébio e Coluna

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Eles vão continuar vivos entre nós Benfiquistas

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Da-lhe aí Leonor

Soltar ou não soltar a tampa

"Verdades inquestionáveis do nosso futebol? Só o Luisão, à sua conta, tem mais quatro Taças da Liga do que o Helton. Só que a Taça da Liga como nunca teve tampa, enfim, dá-se menos por ela."
Com o respeito devido aos seus ideólogos e autores, também não encontro beleza transcendente nem, muito menos, qualquer tipo de justificação para o novo desenho da Supertaça Cândido de Oliveira que veio um tanto inesperadamente substituir o troféu original.
Mudar-lhe o nome teria sido, no entanto, bem menos aceitável. A Supertaça leva o nome de um dos fundadores deste jornal e disso gosto, sempre gostei. Começou a disputar-se na época de 1979/1980 como prova oficial do calendário da FPF colocando frente-a-frente o vencedor do campeonato e o vencedor da Taça de Portugal. O seu primeiro formato era, no entanto bastante disparatado e acabava, frequentemente, por atrapalhar o calendário dos envolvidos.
Disputava-se em duas mãos, em casa de um e em casa do outro finalista, e não contava como método de desempate o número de golos marcados fora, o que obrigava, pelo regulamento, a terceiro jogo no caso de uma vitória para cada lado, fossem os resultados quais fossem na sua expressão numérica.
E obrigava até a quarto jogo como aconteceu na decisão de 1985 com quatro Benficas-Portos de enfiada até o FC Porto levar a taça, como, aliás, viria a fazer pelos anos fora de forma sistemática. Só a partir da temporada de 2001/2002 é que o regulamento da prova ganhou bom senso, passando a ser discutido o troféu num único desafio. O primeiro vencedor neste novo formato foi o FC Porto que bateu por 1-0 o seu vizinho Boavista.
Este ano a taça,o objecto em si, mudou de figura, parece coisa mais envidraçada, supostamente em estilo arrojado com transparências e dourados. Não se discute aqui o gosto mas a oportunidade de mudança. A verdade é que já estávamos todos os que gostamos de futebol, habituados ao primeiro troféu com o seu desenho mais clássico, um bojudo recipiente em prata, ou qualquer coisa parecida, que até tinha tampa e tudo.
Também é verdade que há uns que estavam mais habituados do que outros. Com a expressiva vitória e exibição no último sábado frente ao Vitória de Guimarães, o FC Porto somou a sua 20.ª Supertaça, é obra. No palmarés da competição surge o Sporting (de Lisboa, não o de Braga) em segundo lugar com 7 conquistas e o Benfica, modestamente, muitíssimo modestamente, fica-se pelo terceiro lugar com 4 triunfos.
O meu apreço pelo troféu original prende-se com uma dessas vitórias do Benfica, na temporada de 1989/1990, frente ao Belenenses, quando a decisão era produzida em dois jogos. O Benfica ganhou o primeiro jogo na Luz por 2-0 e depois foi ao Restelo fazer exactamente a mesma coisa, isto é, ganhar por 2-0.
A Supertaça foi entregue ao capitão do Benfica, julgo que era Veloso. Não me recordo se os jogadores ficaram em campo, como mandam as regras do fair-play, para assistir à consagração dos vencedores mas lembro-me bem das fotografias nos jornais no dia seguinte. Eram lindas e bem-dispostas, pudera. Os jogadores do Benfica, fizeram-se fotografar no relvado do Restelo com a tampa da taça a fazer de chapéu. Era para isso que servia, obviamente.
Agora a Supertaça está toda modernaça e já nem tampa tem, o que é imperdoável. A velha Supertaça, por ter sobrecopa, dava uma linda fruteira, o que faz sempre jeito nestas coisas do futebol. A esta nova Supertaça saltou-lhe a tampa e, quanto muito, dará um jarro. Não é bem a mesma coisa é só o futuro dirá para que serve uma taça que é um jarro sem asa nem bico.
O currículo do Benfica na Supertaça Cândido de Oliveira é tão fraco que A Bola, no seu dever de informar, informou, precisamente, na sua edição do último domingo que só Helton, o actual capitão do FC Porto, tem só à sua conta mais duas Supertaças conquistadas do que o Benfica e isto em 35 edições da prova.
É verdade que sim. Tem pois. O Helton já ganhou seis Supertaças ao serviço do FC Porto enquanto o Benfica, como sabemos, tem quatro troféus depois de anos e anos de esforço. Não há como contestar estes números.
Ou há?
Confrontada por um amigo benfiquista sobre a maldade da notícia de A Bola sobre esta contabilidade tão particular, não consegui melhor do que responder-lhe:
- Verdades são verdades.
- Ai são?
- São.
- Então fiquem lá com esta verdade: só o Luisão, à sua conta, tem mais quatro Taças da Liga do que o Helton.
É verdade, sim senhor.
Só que a Taça da Liga como nunca teve tampa, enfim, dá-se menos por ela.
No domingo, o Benfica começa a sua lide no campeonato no estádio dos Barreiros, no Funchal, local onde perdeu o título na temporada passada apesar de ter ganho o jogo, apesar de ter saído de campo com 4 pontos de vantagem sobre o FC Porto e apesar de só lhe terem ficado a faltar três jornadas até ao fim da prova.
A euforia expressa dos jogadores do Benfica no fim desse jogo na ilha da Madeira, sem nada que lhes garantisse a decisão do título a não ser a probabilidade de tal vir a acontecer, só tem comparação com a euforia da viagem de autocarro da Selecção Nacional entre Alcochete e o estádio da Luz a caminho da final do Euro 2004.
Campinos a cavalo acompanharam o autocarro da Selecção à saída de Alcochete, o povo embandeirado aglomerou-se à beira da autoestrada para saudar os não tardava nada campeões da Europa, os barcos apitaram no Tejo enquanto os nossos heróis cruzavam a ponte Vasco da Gama, enfim, todo um arraial. E a coisa acabou em melodrama, inevitavelmente. Tal como acabaria em melodrama a temporada de 2012/2013 de um Benfica tão lançadíssimo para a glória que acabou por soçobrar com o peso de tanta probabilidade.
O Benfica que se vai apresentar no domingo no Funchal é outro. A euforia e a confiança cega nos amanhãs que cantam esboroaram-se num abrir e fechar de olhos e nem a equipa nem os adeptos parecem querer dar sinais de que já recuperaram emocionalmente dos três desastres de Maio.
No último jogo de preparação, em Nápoles, porventura aquele que melhores e mais fiáveis indicações terá fornecido ao seu treinador - porque o adversário era de altíssimo nível -, o Benfica voltou a perder, voltou a sofrer golos e voltou a demonstrar um acanhamento diante da baliza contrária que até faz impressão e em nada contribui para levantar moral às tropas.
A contratação de Funes Mori, entendida de uma maneira geral como para suprimento à partida de Cardozo, também em nada contribuiu para a alegria geral. Ainda ninguém por cá viu jogar o argentino mas são já lendárias entre nós as canções de regozijo dos adeptos do River Plate por verem o seu suposto goleador embarcar para a Europa.
Começa, assim, o Benfica esta época com muito contra si. E até as probabilidades de as coisas correrem bem são muito titubeantes em função do histórico recente e da consequente vaga de descrença que assolou a Luz.
Como é que se dá a volta a isto? Ganhando no Funchal, como no ano passado, obviamente. E tendo por certo que, depois do Funchal, ficam a faltar ao Benfica não as 3 jornadas que deitaram tudo a perder em 2012/2013 mas 29 jornadas por cumprir até ao fim da prova de 2013/2014. É muita jornada, amigos. 
Neste verão ainda não conheci nenhum benfiquista optimista e, por vezes, interrogo-me se não estaremos a exagerar. Os comentários mais alegres que tenho ouvido são deste género:
- Pelo menos este ano não fomos os campeões da pré-temporada...
É verdade que não. Aliás, o campeão desta pré-temporada foi o Marítimo. Ora aqui está um indicador positivo, finalmente.
Boa, Estoril! Parabéns.
O Bruno Alves viu dois cartões amarelos e foi expulso no jogo da Supertaça turca. Há coisas que, francamente, só na Turquia."

Leonor Pinhão 
A Bola

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